Vamos conhecer um pouco
da historia desse filho da terra de Papai Raimundo.
Iniciado o ano de
1930, longe dos conflitos políticos e sociais que aconteciam no país, no Sítio
Boa Vista, município de Várzea Alegre – Ceará, nasce Pedro Alves de Oliveira,
nome que foi posteriormente mudado para Pedro Sátiro.
Era 31 de janeiro, quando a família humilde de Joaquim Alves de
Oliveira e Maria Alves Bezerra recebia com alegria o terceiro filho. Luiza e
João já havia nascido e depois vieram mais três filhos: Elizeu, Nicolau e
Estevão. Ao ser feito seu registro de nascimento houve um erro de data e Pedro
foi registrado como tendo nascido no dia 30, o que consta até hoje em todos os
seus documentos.
A luta pela sobrevivência veio cedo. Com apenas cinco anos de idade,
Pedro inicia sua vida de trabalhador do campo. Indo para a roça poupava sua mãe
de trabalhos extras e ia se familiarizando com as tarefas do campo. De sua
infância no Sítio Boa Vista nada de extraordinário se pode observar. A vida
simples e o cotidiano era iguais para todas as crianças daquele lugar e daquela
época. Porém, com disciplina rígida, seu Joaquim não permitia que os filhos
jogassem pião, armassem arapuca e nem brincassem na casa de amigos. Até porque
nem havia muito tempo disponível para brincadeiras. Com dez anos de idade,
Pedro já sabia ordenhar vacas, encilhar montarias, aparelhar burro e jumento,
cambitar, plantar e colher milho, feijão, arroz, algodão, ou seja, todas as
atividades da vida no campo ele já desempenhava com habilidade. Ao completar
quatorze anos passou também a desempenhar atividades domésticas para auxiliar
sua mãe, D. Maria, quando a mesma encontrava-se doente. Se ela viajava então
Pedro assumia as lutas de casa. Foi neste tempo que ele aprendeu a cozinhar,
sendo por muitos anos, um bom cozinheiro, coisa que hoje relembra com orgulho e
respeito.
Pedro Sátiro nos bancos escolares:
A vontade de estudar veio quando Pedro estava com dezesseis anos, em
1946, lá no Sítio Boa Vista, onde o mesmo morava. Estudar, morando ali, era
praticamente impossível. Não havia escola e nem professores. Suas primeiras
lições de Português e Matemática aconteceram em 1947, com Raimundo Sátiro, seu
primo, que havia deixado os estudos em Fortaleza e encontrava-se residindo no
Sítio Boa Vista. Somente em julho do ano seguinte, Pedro recebeu autorização
dos pais para freqüentar uma escola particular na cidade. Era o Educandário São
Tomaz de Aquino, que tinha como professor e diretor, o jovem Joaquim Correia de
Alcântara.
Foram apenas três meses, e o professor voltou a estudar preparando-se
para o vestibular de medicina, fechando assim a escola. Pedro passou então a
estudar com o professor Valquírio Correia.
Chega o inverno de 1949. Como nesta época as atividades dos campos
aumentam, Pedro deixou os estudos para ajudar seu pai na lavoura. Seu Joaquim,
contudo, vendo nos olhos do filho a vontade de estudar, seu esforço em aprender
e ser alguém na vida fez um compromisso com ele e com toda a família: Se
houvesse boa safra naquele ano, Pedro seria enviado para uma escola regular
fora de Várzea Alegre.
O inverno de 1949 parece ter recebido uma bênção especial de Deus e o
resultado da lavoura foi bom. Seu Joaquim cumpre então a promessa. Aos nove de
agosto, Pedro viaja para o Crato no pau-de-arara do conhecido Chagas Bezerra e
acompanhado por Vicente “Gago”. Estava sendo recomendado ao professor Zuza
Bezerra, um parente que residia naquela cidade.
A viagem durou o dia inteiro e ainda na noite do mesmo dia, Pedro e seu
companheiro Vicente “Gago” foram ter com o professor Zuza, levando a ele uma
carta de seu Joaquim. Ficou acertado, então, que logo no dia seguinte, juntamente
com o professor, Pedro iria conhecer o Colégio.
Foi uma noite de ansiedade e expectativa. Foi também a primeira noite
tão longe de casa. No caminho para o colégio, no outro dia cedinho, o professor
sugere a Pedro uma mudança nos seus planos. Como havia em Várzea Alegre o
professor Valquírio Correia, o melhor seria que Pedro comprasse o livro
Admissão ao Ginásio e voltasse para casa, deixando para novembro, seu ingresso
definitivo no colégio de Crato. A sugestão foi aceita. Pedro voltou a Várzea
Alegre sob aos cuidados do professor Valquírio, trazendo o livro de Admissão.
No dia 07 de novembro de 1949, já de volta ao Crato, Pedro enfrentou
pela primeira vez, uma escola regular. Realiza o velho sonho e dá início a uma
nova etapa de sua vida.
No Crato, foi aluno de Dona Chiquinha Piancó, e no início de dezembro
de 1949, juntamente com outros 74 candidatos, fez as provas de admissão ao
ginásio: Português, Matemática, Geografia e História do Brasil. Dos cinqüenta e
um aprovados, Pedro tirou o primeiro lugar com média 9,7. Seus esforços
começavam a ser recompensados.
Nos anos 50 e 51, fez o primeiro e o segundo ano ginasial no Colégio
Diocesano do Crato, sempre obtendo excelentes notas. Em 1952 novas mudanças
ocorrem em sua vida. Viaja para Fortaleza e matricula-se no Colégio São João
onde cursa o terceiro ano ginasial e prepara-se para fazer o “madureza”, exame
que admitia o aluno no curso científico, o que corresponde ao 2º grau de hoje.
O concurso Madureza é prestado no Liceu do Ceará, e Pedro é aprovado
com bons resultados, voltando então para o Colégio Diocesano, no Crato, onde
cursou, nos anos de 53 e 54, o primeiro e segundo científico.
Mais uma vez atendendo aos sábios conselhos do professor Zuza Bezerra,
Pedro matricula-se, em 1955, no Colégio Carneiro Leão e no Curso Pernambucano,
ambos em Recife, onde Pedro faz o terceiro científico e prepara-se para o exame
vestibular, respectivamente.
Foi um ano difícil, de muito estudo, mas Pedro teve seus esforços
recompensados quando, em fevereiro de 1956, no ano seguinte, passou no
vestibular para medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade de Recife.
Foram 74 alunos aprovados numa turma de 572 candidatos. O curso de medicina
durou seis anos e no dia oito de dezembro de 1961, data em que festeja Nossa
Senhora da Conceição, o jovem Pedro, com 31 anos de idade, recebe com orgulho e
brilhantismo, o grau de Doutor em Medicina. A cerimônia deu-se no Teatro Santa
Izabel, na cidade de Recife. Foi a coroação de uma etapa de doze anos de
estudo, de sacrifício, de esforços e sonhos. Uma juventude dedicada a um
projeto de vida que finalmente se concretizava. Surgiam em seu caminho novos
desafios. Era a hora do jovem Pedro Sátiro colocar em prática seus estudos
universitários e iniciar sua vida como médico. Missão, vocação e
profissionalismo o acompanham desde aquele dia. Um compromisso assumido e
jamais esquecido.
Vestindo a couraça de mérito e da honra do seu ofício de médico e da
construção de uma família:
No dia 08 de janeiro de 1962 o médico Pedro Sátiro realiza seu primeiro
parto na pessoa de Socorro de Toinha de Pedro Preto. Mesmo com uma apresentação
transversa, o parto foi feito com sucesso e aquela foi somente a primeira de um
incontável número de crianças a virem ao mundo pelas mãos habilidosas do Dr.
Pedro. As dificuldades para realizar seu trabalho, contudo, eram enormes.
Qualquer caso de destorcia obstétrica ou em outra área da medicina, o paciente
devia ser encaminhado ao Crato visto que, em Várzea Alegre, ainda não existia
hospital. Suas consultas eram feitas em seu pequeno consultório ou em
domicilio.
Foi também no ano de 1962, que Pedro Sátiro deu início a uma outra fase
da vida. Em nove de junho, uma noite de sábado, casa-se com a jovem Maria
Candice, realizando um grande desejo seu e iniciando uma união que dura até
hoje. 37 anos vividos na partilha cotidiana de projetos e sonhos, desafios e
expectativas. Muitas vezes sendo Maria Candice um ombro amigo, uma fonte de
compreensão e carinho, uma voz prudente a aconselhá-lo e, um ouvido atento ao
diálogo necessário a quem junto caminha.
A cerimônia do casamento foi oficiada pelo Padre José Otávio de
Andrade.
Pouco mais de um ano de casamento, em sete de julho de 1963, nasceu o
primeiro filho do casal, Evandro. Neste mesmo ano Dr. Pedro inicia sua campanha
para a construção da Casa de Saúde São Raimundo Nonato. Um sonho e uma
necessidade que partilhava com todos os varzealegrenses. Com um hospital
instalado, muitos sacrifícios e até vidas poupadas, já não se precisaria ir até
o Crato para casos comuns de intervenção cirúrgica.
Em nove de setembro de 1965, com a presença do então governador do
estado, Cel. Virgilio Távora, é inaugurada a primeira etapa da Casa de Saúde
São Raimundo Nonato. E em vinte e sete de fevereiro de 1966, juntamente com o
médico Dr. Iran, Socorro Mirim e Eliua, o médico Dr. Pedro Sátiro realiza a
primeira cirurgia no município de Várzea Alegre. Foi uma apendicectomia
realizada com sucesso no paciente José Panta, natural do Riacho Verde. É o
inicio do atendimento médico hospitalar em Várzea Alegre e de uma nova vida
para os varzealegrenses.
Além dos serviços prestados à cidade de Várzea Alegre, nos seus ofícios
de médico e político, Dr. Pedro Sátiro prestou também grandes serviços como
cidadão e membro do Lions Clube.
Fundado em oito de março de 1965, por vinte e oito cidadãos
varzealegrenses, o Lions Clube de Várzea Alegre teve como primeiro presidente,
a pessoa de Dr. Pedro Sátiro, com mandato de três meses e reeleito para o ano
Leonístico 65/66. De sua fundação para cá, Dr. Pedro foi presidente do Lions
Clube no total de nove vezes. Foi secretário uma vez, uma vez presidente de
divisão, duas vezes Vice-Governador da Região, e hoje Presidente da Região
Leonística.
Já na década seguinte, exatamente em vinte e seis de setembro de 1973,
Dr. Pedro foi eleito Presidente do Clube Recreativo de Várzea Alegre, que teve
sua estrutura física construída sob sua presidência e seu comando. O Clube
Recreativo, com exceção das piscinas, quadra de esportes salão de jogos, foi
inaugurado em 31 de julho de 1976. Dr. Pedro voltou a ser Presidente deste
Clube, no período de setembro de 1973 a dezembro 1979.
O Ingresso na vida política e social:
Seu ingresso na vida política deu-se no ano de 1966 quando se candidata
a Prefeito Municipal e é eleito, em novembro daquele ano. Sua filha Maria
Christine havia nascido no mês anterior das eleições, em dezenove de outubro.
A posse como prefeito municipal para seu primeiro mandato deu-se em 25
de março de 1967 e encerrou em 25 de março de 1971, quando foi transferido ao
Sr. Antonio Afonso Diniz.
Dr. Pedro e Maria Candice têm ainda mais dois filhos. Os quais vêm
completar a família: Carlile nascido a três de fevereiro de 1968 e Eduardo que
nasceu a nove de junho de 1971.
Mais uma vez seu coração de homem público e de homem político desejoso
de fazer sempre mais por sua terra e seu povo levou Dr. Pedro Sátiro às
campanhas eleitorais. Em 1976 candidata-se novamente a prefeito, sendo eleito
no pleito de 15 de novembro daquele ano. Sua posse como prefeito, pela segunda
vez, deu-se em 31 de janeiro de 1977, para o mandato de quatro anos. Mandato
este que foi prorrogado por mais dois anos, quando foi terminar somente em 31
de janeiro de 1983.
Como o espírito do homem nunca envelhece os ideais se renovam a cada
dia, Dr. Pedro não perde seu amor pelo velho torrão, por sua cidade e nem por
sua gente, pois mesmo distante da Prefeitura, nunca deixou de trabalhar e de
buscar melhorias para o município. Com seu prestígio e as suas amizades
conseguidas no tempo da política, Dr. Pedro acabou conquistando muitos
benefícios para Várzea Alegre, até mesmo no período em que passou afastado do
Poder Executivo. Só que a missão ainda não estava completa. Seu espírito
guerreiro, acostumado aos desafios da vida o trazia de volta ao cenário
político municipal. Em três de outubro de 1992, é eleito pela terceira vez para
o cargo de prefeito municipal, para o qual toma posse em primeiro de janeiro de
1993.
Primeiro de janeiro de 1997 é o final de mais um mandato em sua
carreira política e décimo quarto ano completado à frente de um município em
extensão, caminhando firme para o progresso e o desenvolvimento.
Como o tempo não para e a vida segue inexorável o seu caminho, Dr.
Pedro Sátiro completava, no dia 31 de janeiro 2000, setenta anos de existência.
Vai-se o tempo e fica a história dos ideais e dos sonhos, das lutas e dos
desafios, das vitórias e das desilusões, dos risos e das lágrimas. Ficam
lembranças e saudades, ficam marcas que a alma carrega e rugas que embelezam a
vida. Não sinais de cansaço, mais traços que Deus, através dos anos, oferece
àqueles que perseveram na luta. Destes anos todos ficou principalmente um apego
muito forte à sua Terra da qual ausentou-se somente no tempo de estudante. Ficou
um carinho e um afeto a essa gente toda, ao povo varzealegrense. Prova disto
são os oitocentos e sessenta e seis afilhados de batismo espalhados por todo o
município, e praticamente, por todas as famílias. Afilhados que são frutos de
amizades sinceras conquistadas e conservadas em toda sua existência.
Aos setenta e cinco de idade, Dr. Pedro Sátiro continua vivendo a
essência de uma vida digna, caracterizada por seus valores morais e éticos,
fortalecendo mais e mais a expressão de homem cidadão e merecedor de honra e
méritos. A coragem e o dinamismo ainda são partes de sua pessoa. Permanece
acesa a chama dos ideais, e somos gratos em saber que ainda o veremos fazer
muito por nosso município. O capítulo mais belo de uma história não se finda
com o aparecimento de cabelos brancos e nem tampouco com o peso da idade e
setenta e cinco anos, mas sim, com a continuidade de benefícios feitos em prol
do desenvolvimento social. Haja vista dizer de dedicação do Dr. Pedro Sátiro,
diante dos serviços prestados à saúde de Várzea Alegre, quando ainda está à
frente da Direção do Hospital Casa de Saúde São Raimundo Nonato, bem como dos
serviços prestados no âmbito da comunicação, da cultura e da imprensa, quando
na direção da Rádio Cultura de Várzea Alegre.
A vida não pára, enquanto existir homens ilustres, valentes, guerreiros
e dedicados à vida de uma gente que preza pela cidadania e democracia de uma
cidade, fazendo valer esforços tamanhos (contextualizado e valorizando os
princípios morais da população varzealegrense). É Dr. Pedro Sátiro o exemplo
desta luta.
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