Atores vestiram saia para protestar contra restrições de indumentária do Teatro Amazonas (Foto: Marcos Dantas/G1)
Um professor da Universidade do Estado do Amazonas
(UEA) organizou um protesto realizado na noite desta terça-feira (18), no
Teatro Amazonas, localizado no Centro de Manaus. Após presenciar o que ele
afirma ter sido "discriminação com espectadores", ele, alunos e
simpatizantes da causa resolveram ir ao teatro com roupas diferentes. Enquanto
os homens usavam saia, as mulheres usavam bermudas. Cerca de 70 pessoas
participaram do ato. A entrada de pessoas trajando chinelos, bermudas, blusas
sem manga ou shorts é proibida. A Secretaria de Cultura do Amazonas informou
que as regras são "uma questão de respeito ao local e aos artistas que ali
se apresentam".
Segundo o professor Jhon Castro, do curso de Teatro
da UEA, o protesto foi motivado por um episódio ocorrido na última
segunda-feira (17), durante a entrada do público para acompanhar um espetáculo
da Mostra de 10 Anos de Teatro na Amazônia, evento que acontece desde o dia 16
de março e vai até o próximo sábado (22), com entrada gratuita.
Ele afirma ter presenciado uma cena de
discriminação, quando um homem que estava vestindo bermuda e calçado com um
chinelo foi impedido de entrar no Teatro Amazonas. "Funcionários do teatro
que abordaram a pessoa em questão alegaram que ela não estava vestida de forma
elegante e impediram a entrada dela. Nós que somos artistas ficamos indignados
com essa atitude. O que gente quer é que a arte seja mostrada e divulgada. Não
faz sentido cercear a entrada das pessoas, ainda mais em um tom de intimidação.
Queremos que o teatro seja aberto para o povo", disse Jhon Castro, ao G1.

roupas na entrada do teatro
(Foto: Marcos Dantas/G1)
Na entrada principal do Teatro Amazonas, durante
todas as apresentações, há um banner que informa que, entre outras vestimentas,
o uso de bermuda e chinelo é proibido dentro do recinto. Para o professor Jhon
Castro, esse tipo de limitação fere a Constituição brasileira. "Este aviso
fere o artigo 5º da Constituição Federal, que fala da igualdade de todos
perante a lei e do respeito aos direitos do ser humano. Cercear a entrada de
pessoas no teatro por causa da roupa que elas vestem, ainda mais da maneira como
foi feito, é muito desrespeitoso. É preconceito", afirmou o professor.
Na noite desta terça, o professor, alunos de teatro
e simpatizantes à causa, foram ao teatro vestidos em protesto à restrição. Os
homens foram de saia, enquanto as mulheres trajavam bermudas. Após uma
discussão, eles conseguiram entrar. "Tivemos que apelar para a
Constituição, e contamos com o apoio do restante da plateia e com isso
conseguimos entrar", contou Jhon Castro.
Segundo ele, o único objetivo do movimento é
assegurar o direito da população de ter acesso ao Teatro no Amazonas. "Não
é o protesto de uma pessoa só. E nem é um movimento que tenha qualquer outra
reivindicação que não seja lutar pelo direito de ir vir e de entrar em um
prédio público para acompanhar um espetáculo de teatro", concluiu.

O estudante de teatro Ismael Farias, de 57 anos, foi
um dos alunos que resolveram apoiar a causa. Ele encara a proibição como uma
restrição à arte. "Isso é só uma pontinha do que tem sido feito com a arte
aqui em Manaus. Estamos sendo agredidos de forma institucional mais uma vez. O
que aconteceu aqui foi exclusão social. Quer dizer que quem não tem condições
de ter acesso a uma roupa melhor não pode assistir a um espetáculo de teatro no
Amazonas?", questiona.
Ele vê ainda a contradição na atitude da
organização, que não cobra a entrada para os espetáculos. "Uma das maiores
dificuldades do artista hoje em Manaus, é a justamente a falta de público. Um
cidadão que vai pela primeira vez ao teatro e é barrado por conta da roupa que
ele veste não volta nunca mais", comentou.
Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas informou
que entende todas as formas de expressão, mas que as regras continuarão
valendo.
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