'Bati nele para soltar, mas já estava sem braço', diz vítima de tubarão

23/12/2015 18h15 - Atualizado em 23/12/2015 21h52

'Bati nele para soltar, mas já estava sem braço', diz vítima de tubarão

Paranaense Márcio de Castro Palma, de 32 anos, foi atacado em Noronha.
Otimista, ele conta que é destro e planeja usar uma prótese no braço.

Do G1 PE
"Só tenho que agradecer, é uma oportunidade de viver novamente", disse, na tarde desta quarta-feira (23), o contador paranaense Márcio de Castro Palma da Silva, de 32 anos, que perdeu a mão e parte do braço direito ao ser atacado por um tubarão em Fernando de Noronha na última segunda (21). Ele conversou com a imprensa na Unidade III da Unimed, hospital particular da Ilha do Leite, área central do Recife, onde está internado. [Veja um trecho no vídeo acima].
O contador Márcio de Castro Palma falou sobre o momento em que foi atacado por um tubarão em Fernando de Noronha (Foto: Maria Luiza Veiga / Divulgação)O contador Márcio de Castro Palma falou sobre o momento em que foi atacado por um tubarão em Fernando de Noronha (Foto: Maria Luiza Veiga / Divulgação)
Ele tinha feito um mergulho anterior e decidiu voltar a uma área menos turva do mar para tentar ver mais peixes -- a profundidade da água não ultrapassava dois metros no local segundo Márcio. Quando percebeu o tubarão, ele já estava a aproximadamente 40 a 70 cm de distância. "Claro que eu gostaria de ver um peixe grande. Não recebi orientação para não tocar o animal, mas também nunca tive vontade de fazer isso", contou. "Fiz um giro de 360º, meio agachado, e, quando me posicionei novamente de frente para o oceano, o tubarão estava na minha frente. No segundo chacoalhão ele já arrancou o braço. Bati nele pra tentar me soltar, mas já tava sem o braço. Naturalmente eu afundei um pouquinho e comecei a nadar", lembra ele, sereno.

Ao fugir do animal, tentando voltar para a areia, ele avisou à esposa que saísse da água e levantou o braço para evitar sangramento. "Pensei que ele podia me atacar novamente mas em nenhum momento pensei em desistir", afirma. Pessoas que estavam na praia ajudaram a socorrer Márcio depois do ataque. Um rapaz que estava na praia ajudou a fazer um torniquete. Além disso, médicos que estavam de férias na ilha atuaram no atendimento ao rapaz. "Esses primeiros socorros foram fundamentais para que eu sobrevivesse", conta.
Márcio contou que é destro e demonstrou consciência e otimismo. "Fico pensando que não vai resolver ficar triste e abatido. São desafios novos que vou enfrentar, principalmente na minha profissão, mas acho que vou conseguir. Vou sofrer um pouco mais porque não vou ter a mão direita. Vou ter que fazer cirurgia para ajeitar o osso, depois outra para tampar melhor e depois vou procurar ver se consigo usar prótese", planeja.

Mesmo depois do acidente, Márcio diz que não só recomendaria Noronha como voltaria à ilha. Quando chegou à ilha, conta que ouviu instruções sobre tubarões, que "as espécies lá não atacavam, não eram 'carnívoras'. No máximo iam morder o braço dele achando que era um peixe... E foi bem isso que aconteceu", disse, rindo.

O médico André Akel, diretor adjunto da unidade hospitalar, prevê que Márcio passe mais 7 a 10 dias sendo tratado com antibióticos para poder fazer mais um procedimento cirúrgico. Vai cortar um pouco do osso e fechar com a pele de modo que não fique nenhuma parte muscular exposta. "A gente tem que melhorar o quadro antes de fazer esse procedimento definitivo", afirma. De acordo com Akel, Márcio ainda corre risco de apresentar infecção.

Praia interditada
A Baía do Sueste, em Fernando de Noronha, local em que houve o ataque, permaneceráfechada por pelo menos 48 horas, segundo a fiscalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Representantes do órgão devem avaliar o caso, juntamente com profissionais do Ibama, do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit)  e com pesquisadores que conhecem a ilha para entender como o ataque aconteceu e, assim, liberar o acesso da área à população.
Segundo informações coletadas pelos representantes do Cemit, havia, no momento do ataque, condições propícias para a interação entre o turista paranaense e o tubarão. “Suspeitamos que a espécie que atacou o turista é migratória, não é típica da ilha, porque a probabilidade de ataque das espécies naturais de lá é baixa. Outras condições como a maré alta e a água turva também podem ter aumentado a probabilidade de o turista ter se deparado com o tubarão”, explica o Coronel Ramalho.
Praia do Sueste  (Foto: Ana Clara Marinho/TV Globo)Baía do Sueste é uma das praias mais frequentadas por turistas em Fernando de Noronha
(Foto: Ana Clara Marinho/TV Globo)
Entenda o caso
Na última segunda (21), o paranaense de 32 anos foi atacado por um tubarão na Baía do Sueste, em Fernando de Noronha. A vítima recebeu os primeiros socorros no próprio arquipélago e viajou para o Recife na manhã da terça (22) para atendimento no Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, área central do Recife. Durante o ataque do animal, a vítima teve a mão direita e parte do antebraço amputados. Após cirurgia no HR, o paciente teve quadro classificado como estável e foi transferido para um hospital particular na Ilha do Leite, no Recife.

Estudos
Na terça (22), o engenheiro de pesca Leonardo Veras e a bióloga e fotógrafa Zaira Mateus fizeram um mergulho na Baía do Sueste, onde tudo aconteceu, autorizados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gerencia o parque nacional marinho, para tentar entender o ocorrido. De acordo com o pesquisador, foi um tubarão tigre.

O engenheiro de pesca, morador da ilha e curador do Museu do Tubarão, também em Noronha, explicou como foi feito o estudo. “O depoimento dele [o turista] deixou bem claro que era um tubarão tigre”, atesta Veras. Segundo ele, essa espécie migra longas distâncias, frequenta regiões oceânicas, costeiras e até estuários. “Temos animal marcado aqui em Noronha que já foi encontrado na costa da África; marcado aqui e que já foi bater na Paraíba. Ele tem uma distribuição geográfica muito grande e errante”, analisa.

Este foi o primeiro ataque registrado na ilha nos últimos 23 anos, desde que começou o monitoramento. Em Pernambuco, entre o Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul, e Paulista, no Litoral Norte, foram 61 ataques, nos quais 24 pessoas morreram.

Nenhum comentário

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››

Postagens populares