MANIFESTANTES INCENDEIAM ÔNIBUS

Policiamento foi reforçado após dois ônibus serem queimados na rodovia
Por causa da manifestação, engarrafamento chegou a dez quilômetros nos dois sentidos da BR-040
Por causa da manifestação, engarrafamento chegou a dez quilômetros nos dois sentidos da BR-040
Moradores de Ewbank da Câmara, município a 40 quilômetros de Juiz de Fora, fecharam por mais de oito horas os dois sentidos da BR-040, no km 758, na entrada da cidade, e incendiaram dois ônibus da Transur, empresa responsável pelo transporte intermunicipal na região. O protesto, segundo os manifestantes, era contra o preço da passagem dos coletivos e em virtude do impedimento de embarque e desembarque de passageiros de Ewbank nas linhas de transporte coletivo que servem as localidades de Paula Lima (729) e Chapéu D’Uvas (714), ambas em Juiz de Fora. As manifestações tiveram início na madrugada de ontem, por volta das 5h30, quando populares montaram barricada, com folhas de árvores, madeira e pneus, que foram espalhados e queimados na pista. Horas depois, às 13h30, a via foi liberada após acordo entre a comunidade e a Polícia Militar. Em seguida, o grupo se dirigiu ao prédio da Prefeitura da cidade, para acompanhar uma reunião entre representantes do Poder Público e da Transur. Depois da reunião, um breve protesto teria ocorrido novamente na parte da tarde. Segundo a Polícia Civil de Santos Dumont, pelo menos sete pessoas teriam sido detidas. Até o fechamento desta edição, elas prestavam depoimento na delegacia.
De acordo com a moradora Lucimar Rodrigues, integrante do movimento, os preços praticados pela Transur são abusivos. “Há 25 anos lutamos contra isso. Existem seis valores de passagem para Juiz de Fora, que custam de R$ 3,80 a R$ 9. Temos pouca oferta dentro do município e, se perdermos estes, precisamos ir até a rodovia pegar outras linhas. Queremos mais horários e mais dias. Por exemplo, no domingo, não temos nenhuma linha.” Ainda segundo os manifestantes, sem os ônibus de Juiz de Fora, a população da cidade teria menos opções. “Os ônibus que vinham de Juiz de Fora eram nosso reforço. A população cresceu, e precisamos de mais linhas para suprir a demanda, porque, em alguns horários, várias pessoas são levadas em pé. Se vão cortar o ônibus, precisam dar suporte”, acrescentou.
O dono da Transur, José Mansur, explicou que, atualmente, o preço cobrado aos passageiros da linha Ewbank/Juiz de Fora é de R$ 6,15, mas, em seis horários, este valor cai para R$ 3,80 devido a um desconto oferecido pela própria empresa. No total, são dez horários disponíveis para a linha diariamente e cerca de 6.300 passageiros atendidos em média por mês. “É importante lembrar que não somos obrigados a dar esse desconto, e não procede a informação de que houve aumento no preço da passagem. Nós não temos essa autonomia, e quem define isso é o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) uma vez por ano.” Ainda conforme José Mansur, as outras linhas que também são utilizadas pelos moradores de Ewbank são a de Juiz de Fora/Barbacena, cuja passagem custa R$ 8,25, e a de Juiz de Fora/Santos Dumont, que custa R$ 9, variação causada por diferenças no ICMS e pelos tipos de veículos. Na linha de Santos Dumont, são aproximadamente 44 mil passageiros atendidos por mês.
Em nota, a Settra informou que o embarque feito nas linhas da Viação São Francisco é proibido, devido à própria sinalização da via. Conforme a pasta, o que foi feito foi reforçar essa proibição, junto com representantes de Ewbank da Câmara e da Associação de Bairro de Paula Lima. “É importante esclarecer também que o embarque estava sendo realizado irregularmente pela empresa que atua na região, e a mesma foi devidamente advertida”, informa a nota.

Novos protestos
Durante reunião na tarde de ontem entre moradores e a Transur, segundo a moradora Lucimar Rodrigues, foi prometido o aumento de horários de ônibus para a cidade, mas o preço continuaria o mesmo. Entretanto, o dono da Transur, José Mansur, disse que não houve esta promessa. “O que propomos foi de marcar uma nova reunião para semana que vem, com representantes da Prefeitura e dos moradores. Para aumentar o número de horários, precisamos avaliar o índice de aproveitamento das viagens. Eu coloco quantos ônibus forem necessários, desde que tenha passageiro naquele horário pra isso.”
Ele também garantiu que provavelmente a empresa não terá ônibus para realizar o trajeto até a cidade hoje. “Além disso, eu só vou colocar meus funcionários para trabalhar se tiver segurança para eles e para os passageiros.” Ontem, algumas linhas tiveram que realizar um desvio por Rio Pomba, o que aumentou o tempo de viagem. Segundo Lucimar, os moradores não ficaram satisfeitos com o resultado ontem. “Se amanhã (hoje) acontecer de ficarmos sem ônibus mais uma vez, vamos protestar de novo.”

Prejuízo e dia de trabalho perdido

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), durante todo o protesto, o engarrafamento na BR-040 chegou a dez quilômetros de extensão em ambos os sentidos. As chamas provenientes dos ônibus foram controladas por um caminhão do Corpo de Bombeiros. O prefeito de Ewbank da Câmara, Mauro Mendes (DEM), esteve na rodovia, mas, por conta dos ânimos exaltados, ele se dirigiu com uma comissão formada pelos moradores para encontro em seu gabinete. O dono da Transur informou que não houve feridos nas manifestações e que dois ônibus foram destruídos, totalizando prejuízo de cerca de R$ 150 mil.
Com a interdição da estrada, caminhoneiros e trabalhadores computaram prejuízos, bem como a falta de cumprimento de prazos de entrega das cargas e dia de trabalho perdido. Morador de Ewbank, Frederico da Silva atua como assistente de departamento de uma rede de supermercados em Juiz de Fora. Todos os dias, ele e outras 30 pessoas que também atuam em unidades do estabelecimento vêm à cidade em um ônibus fretado. Com o bloqueio, todos perderam o dia de trabalho. “Essa variação do preço não pode continuar. Às vezes consigo sair mais cedo do serviço e venho em casa antes de ir para a faculdade. Quando preciso voltar à Juiz de Fora, preciso desembolsar R$ 9.”
O operador de máquinas, Rafael Lima, de Santos Dumont, também perdeu o dia de trabalho. “É um transtorno. O protesto é válido, mas não concordo com o vandalismo.” O motorista Waldeci Magno, que mora em Barbacena e se dirigia para a empresa em que trabalha em Juiz de Fora, não conseguiu chegar a tempo de pegar a carga que precisava transportar.
Entre os caminhoneiros, Wilson Gomes era um dos afetados. Ele retornava de Jeceaba (MG) para Juiz de Fora para deixar o caminhão com nitrogênio. Outro motorista, Efigênio Custódio, foi o primeiro a ser impedido de passar no sentido Juiz de Fora/Ewbank. “Estou vindo do Rio para Belo Horizonte. Era para eu chegar às 9h, mas fiquei parado desde às 4h20. Tive um prejuízo de quase R$ 3 mil por conta da carga.”

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