Marcilio Sales, de 43 anos, é conhecido como 'cangaceiro da dengue' da UnB (Foto: Jéssica Nascimento/G1)
Conhecido como
"cangaceiro da dengue" pelos alunos da Universidade de Brasília
(UnB), o piauiense Marcílio Sales, de 43 anos, trabalha "caçando"
focos do Aedes aegypti pelo campus. Ele diz eliminar 5 mil larvas do mosquito
semanalmente utilizando como "armas" uma bicicleta, caule de timbó –
cipó encontrado no cerrado – e potes recicláveis pretos.
O prestador de
serviço trabalha há 16 anos em uma pequena sala na prefeitura da universidade.
Ele foi contratado para combater a proliferação de insetos no campus, como
mosquitos e escorpiões. Além de "caçar" o Aedes aegypti, Sales também
cria esculturas do inseto, utilizando ferro reciclado. Segundo ele, o objetivo
é conscientizar a comunidade por intermédio de palestras em escolas e na
própria UnB.
"Faço um
trabalho de extermínio. O mosquito é sábio, inteligente. Ele se esconde da
população, adora um local escuro. Por isso coloco o pote preto, entende? Dentro
dos copinhos, jogo capim com água. O cheiro ruim atrai o Aedes aegypti e ele
deposita os ovos nas tiras de madeiras. Depois de sete dias, mato todos e
percebo onde está o foco do mosquito. Depois, a equipe de dedetização vem até o
local e faz o trabalho", explica.
O serviço é
feito de 8h às 17h. De bicicleta, o "cangaceiro da dengue" percorre
todo o campus Darcy Ribeiro, localizado no Plano Piloto. Alguns trabalhos de
extermínio também já foram realizados em Ceilândia. A principal
"arma" contra o mosquito, segundo Sales, é a planta Serjania
lethalis, conhecida popularmente como timbó, que age na água, matando as larvas
e evitando que o Aedes se prolifere.
Mesmo sem
formação na área de biologia, Sales diz entender "perfeitamente" como
e onde o mosquito age. "O falecido professor Elias de Paula da UnB foi
quem me deu os caminhos. Descobrimos a ação do timbó juntos. A planta é de
graça, encontrada facilmente no cerrado, inclusive no campus. Por que não
usá-la? Milhares de pessoas seriam poupadas", acredita.
Marcílio mostra larvas do mosquito Aedes aegypti
mergulhadas em solução feita com timbó (Foto: Jéssica Nascimento/G1)
Formigas,
aranhas e escorpiões também são capturados por Sales. Cada buraco, fresta de
árvore e boca de lobo é avaliado com cuidado pelo "cangaceiro".
"A saúde dos alunos está na minha mão, né? Nunca tive dengue e nem ninguém
da minha família. Tomo cuidado mesmo e sou até chato. Olho esgoto, vaso de
planta, pratinho de cachorro."
Apesar do
trabalho árduo, Sales acredita que a comunidade deve aprender a ''respeitar'' o
local onde mora e estuda. Segundo ele, diversos professores e alunos o procuram
para denunciar sitações de risco no campus.
"Sozinho
não consigo combater tudo. Extermino quase tudo, sabia? Porém, seria ideal que
tivessem outros funcionários comigo. Hoje, o meu aliado é o timbó. Em apenas
uma hora ele consegue matar larvas e mosquitos. Confio nele, até hoje ele não
me deu problema. Ele vem da natureza, não tem como ser ruim."
Até o dia 26 de
fevereiro, de acordo com a Secretaria de Saúde, 4.881 casos suspeitos de dengue
foram registrados no Distrito Federal.
Em 2015, no mesmo período, foram 3.977 – aumento de 22,11%. As regiões
administrativas de Brazlândia, Ceilândia,
São Sebastião, Taguatinga, Samambaia e Planaltina são as que apresentam mais
casos da doença.
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