Agente chora durante enterro do sargento Artur Fernando Riberio Moura, morto no dia 27 em Copacabana (Foto: Reprodução/TV Globo) |
Chega ao fim o mês de janeiro e, até a noite desta
segunda-feira (30), 18 policiais militares do Rio de Janeiro morreram; outros
42 foram feridos. Dos mortos, quatro estavam em serviço, 12 de folga e outros
dois eram PMs aposentados. Isso corresponde a um aumento de 80% nos casos
comparado com o mesmo mês de 2016, quando dez PMs foram mortos - um estava de
serviço e nove de folga.
São dados que demonstram como o
recrudescimento da violência no estado atinge diretamente a corporação. Os
altos índices de letalidade e a calamidade financeira do estado são apontados
como fatores que têm contribuído para corroer o psicológico de PMs, que cada
vez mais têm procurado atendimento especializado para solucionar questões
associadas à sanidade mental.
"Uma coisa que a gente ouve
muito é que com esse atraso de inativos e de pensionistas, o policial não pode
morrer. Por que o que será da família dele se, além de perder o pai, vai ficar
sem salário? E aí, a gente percebe que essas mortes vulnerabilizam muito o
policial", diz o chefe do Núcleo Central de Atendimento Psicológico da PM,
tenente-coronel Fernando Derenusson.
O oficial ressalta que, só em 2016,
o núcleo concedeu 1.398 pedidos de licença a militares que declararam estar
impossibilitados de trabalhar por problemas psicológicos ou psiquátricos. Um
número que, segundo o chefe do setor, significa atualmente aproximadamente 4%
do efetivo da corporação, que hoje conta com 47 mil homens.
Como chefe da seção, Derenusson
acompanha de perto o que a derrocada do Estado tem causado à categoria. Grande
parte tem sofrido de distúrbios e reclamado da falta de salários e cargas
horárias incompatíveis. Só no último ano, a ampla maioria dos atendimentos
(46%) foi feita a policiais da ativa - aqueles que estão envolvidos diretamente
no policiamento ostensivo.
Defasagem de profissionais
A quantidade de atendimentos é expressiva - 20 mil policiais foram atendidos em 2016 -, mas pequena diante do universo de quase 300 mil pessoas que o setor psicológico da corporação poderia atender. O tenente-coronel considera insuficiente o número de profissionais disponíveis para suprir a demanda.
"A procura, tanto pela
psicologia quanto pela psiquiatria, está refletindo o aumento da pressão que a
Polícia Militar vem sofrendo. Existe uma crise, aumenta a violência na
sociedade. Aumenta a violência, aumenta a exposição do policial a estresse
pós-traumático, ao trauma, ao risco. Então, aumentou, sim, a procura por
atendimento por causa dessa crise", diz o oficial.
Somados os fatores crise financeira
e aumento da violência, o oficial ressaltou que o policial tende a ficar mais
vulnerável. Uma das questões que têm afligido a tropa, por exemplo, é a
indefinição sobre o aumento da contribuição previdenciária. Esta semana o
Governo do Rio deve apresentar à Assembleia Legislativa um novo pacote de
medidas de austeridade e uma delas incluirá o aumento da alíquota.
Ao todo, a equipe que atende a PMs é
composta por 98 psicólogos, sendo que 32 deles atendem em batalhões e outros 29
em unidades de saúde da PM - dois hospitais e quatro policlínicas. Os outros
profissionais são distribuídos em unidades administrativas ou de instrução
militar.
Além de psicólogos, a equipe também
conta com quatro psiquiatras designados para atender a casos mais críticos nos
quais o policial precisa, por vezes, ser afastado de acordo com avaliação
clínica.
Derenusson conta que, em 2015, o
número de psiquiatras na corporação foi cortado pela metade (antes eram oito).
Hoje, ele considera que não há psiquiatras suficientes para atender aos 47 mil
homens. Para sanar o problema, o oficial defende a realização de um concurso
para repor os profissionais que foram cortados.
Fórum debate vitimização de PMs
É com o objetivo de analisar os números levantados pelo Núcleo de Atendimento Psicológico que a PM vai realizar nesta terça-feira (31) o Fórum de Policiais Mortos e Feridos. Um dos dados que serão apresentados a comandantes de batalhões indica que 40% dos PMs que são afastados pelo setor psiquiátrico está há cinco anos na corporação e a maioria é de Unidades de Polícia Pacificadora.
A divulgação faz parte do Programa
Permanente de Capacitação Continuada da PM, iniciado no ano passado, que tem
como meta reduzir a letalitade por meio de treinamentos específicos que ajudem
os mlitares a tomarem decisões mais assertivas quando diante de alguma ameaça.
"São 15 dias que o projeto
encampa determinada unidade, e ali, o policial já é logo recebido por uma
equipe médica que faz uma bateria de exames: avalia pressão, acuidade visual,
capacidade de percepção. Depois, [o PM] vai para uma bateria de análises
psicológicas, para, depois, ele ser lançado numa bateria de treinamentos no
Centro de Instrução Especializada de Tiro", explicou o coordenador de
Comunidação Social da PM, major Ivan Blaz.
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