A leishmaniose visceral infecta principalmente os cães, que hospedam o vírus e aumentam o risco de disseminação da doença ( Foto: Roberto Crispim (arquivo DN) ) |
O número de mortes em 2016, no Ceará,
em consequência da leishmaniose
viral (LV), foi o menor dos últimos dez anos. Dos 310 casos
registrados no Estado, no ano passado, 20 evoluíram a óbito, o que representa
metade das ocorrências de 2015, quando 41 pessoas morreram, de acordo com
boletim da Secretaria da Saúde (Sesa).
Os fatores da queda considerável
ainda são desconhecidos, mas o longo período de seca nos municípios cearenses,
que influencia na diminuição da reprodução do transmissor da doença aos
animais, o "mosquito-palha", pode ter sido um deles, afirma o biólogo
e integrante do Grupo de Trabalho em Leishmaniose da Sesa, Luís Osvaldo da
Silva. Ele reforça, porém, que as causas ainda estão sendo estudadas.
No período de 2007 a outubro de 2016,
foram confirmados 5.657 casos da doença em humanos, em 171 municípios do Ceará.
As maiores ocorrências foram contabilizadas em Fortaleza, com 33,2% dos casos
(1.880), seguida de Sobral, com 6% (339), Caucaia, com 5,6% (318), e Maracanaú,
com 3,8% (215). Os dados são da Sesa.
Transmissão
A leishmaniose visceral é transmitida
pela picada do flebotomíneo, o "mosquitos-palha",
e infecta principalmente os cães, que hospedam o vírus e aumentam o risco de
disseminação da doença. A virose tem tratamento para humanos, mas é incurável
nos animais. A eutanásia - ou sacrifício - é recomendação estrita do Ministério
da Saúde para esses casos.
Em Fortaleza, 5.101 cães foram
diagnosticados com o vírus, em 2016, e 2.148 deles foram sacrificados, segundo
dados do Centro de Controle de
Zoonoses (CCZ) da Capital. Apesar de ser solução possível
para o risco de contaminação, a eutanásia não é obrigatória, e apenas cerca de
20% dos donos a permitem, reconhece a assessora técnica do CCZ, Klessiany
Soares. Ela alerta, porém, que "os proprietários assumem um risco, já que
o cachorro ainda é reservatório da doença".
Sintomas em humanos: febre de longa
duração, perda de peso, astenia e adinamia (sensação de fraqueza muscular) e
anemia.
Ralph era saudável, hiperativo, até.
Mas precisou morrer ainda jovem, aos 13 anos. Nenhum sinal físico indicava a
doença, mas o cão da raça Pinscher foi diagnosticado como portador do
vírus da leishmaniose canina e precisou ser sacrificado. "Quando eu soube
da doença, não tive coragem de permitir a eutanásia. Procurei tratamento no
veterinário para diminuir a ação do vírus, mas era muito caro", relembra a
"mãe" de Ralph, a estudante Claryce Oliveira, 22.
Os Ministérios da Agricultura e da
Saúde liberaram o uso do medicamento Milteforan (Virbac) no tratamento dos cães
acometidos pela leishmaniose visceral canina, mas a aquisição do medicamento ainda
é inacessível, pelos preços elevados.
Em média, 66% dos casos ocorre em
pessoas do sexo masculino.
Combate
Dentre as medidas de combate à
doença, o Ministério da Saúde adotou, em Fortaleza, a implantação de coleiras
repelentes e inseticidas nos cães, a fim de impedir a picada dos mosquitos. O
projeto, segundo a técnica em zoonoses, ainda é piloto e só foi
testado nos bairros de Messejana, Bom Jardim e Barra do Ceará, onde foram
registrados mais casos da doença em humanos.
Os donos dos pets também podem ser
grandes agentes de prevenção. "A ação do Governo sem a ajuda da população
não é suficiente. É preciso manter o quintal limpo e dar destino adequado ao
lixo, porque é no solo rico em matéria orgânica que o mosquito se
reproduz", alerta o biólogo Luís Otávio.
Colaborou Theyse Viana.
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