Arte popular detém uma atenção especial dos gestores da ONG Beatos
FOTOS: ELIZÂNGELA SANTOS
Crato. Um espaço
naturalmente destinado à vivência das tradições da região do Cariri cearense. A
cultura popular encontra morada na Organização Não Governamental (ONG) Base
Educultural de Ação e Organização Social (Beatos). O projeto vem crescendo
diante do olhar dos que têm uma visão literal da sua sigla. São pessoas que
veem a cultura num processo constante de vivência e construção.
Uma delas é a gestora cultural e
pesquisadora, Dane de Jade, atual secretária de Cultura do Crato. Ela é uma das
idealizadoras do espaço, herança de família, e de um imaginário que permanece
nas suas lembranças de infância como grande estímulo para manter latente a arte
e promover o resgate das tradições. Em meio às moradias, com os seus modelos
sertanejos preservados, há a Casa Museu e, ao lado, o galpão onde acontecem as
vivências, cursos dos saberes destinados à comunidade, num resgate constante.
A ONG Beatos fica no bairro Lameiro, um
sítio bem próximo à zona urbana de Crato. Os encontros de gerações para
compartilhamento dos saberes são constantes. A poesia, a música e as artes
plásticas se inserem no cotidiano e adentram os terreiros da Beatos. Já são 18
encontros com músicos contemporâneos e os mais antigos, que por meio de
diálogos, reservam aos artistas a permanência de uma memória tradicional.
História
Idealizada desde 2003, a Beatos nasceu
formalmente a partir de 2008. O avô bonequeiro de Dane de Jade chega no campo
permanente de sua inspiração. As manifestações dos grupos têm cada vez mais
sido restritas às datas comemorativas, como Dia de Reis e folclore e ela
destaca a importância das políticas culturais para o fortalecimento dessas
vivências.
Para Dane, a ONG Beatos é uma pequena
reserva para a preservação da memória da tradição. O rumo das ações traz junto
o processo de conscientização de como a arte pode andar junto com o
desenvolvimento de uma sociedade. A gestora convive em meio às diversas formas
de manifestação da arte regional. A poesia, a música, apresentações das bandas
cabaçais, reisados, maneiro pau, mulheres do coco e repentistas. A mistura que
faz a riqueza do Cariri tem passado frequentemente pelo espaço.
Dentro da construção de base educativa
voltada para a arte, no ano passado foi desenvolvido pela ONG o projeto Estação
Tradição - Primeira Parada, em que crianças de escolas públicas tiveram a
oportunidade de adentrar o espaço de reconhecimento da arte e chegaram
visualizar grupos se apresentando, pela primeira vez, nas terreiradas. Para a
integrante da ONG Gisele Teixeira parece inacreditável para uma região tão
rica.
Segundo ela, o crescimento das cidades
acaba promovendo um pouco esse distanciamento. E é aí que entra o papel da
Beatos, que somente no ano passado teve uma visitação expressiva de crianças e
jovens, que fizeram a festa em meio aos instrumentos musicais de mestres da
arte no Cariri, esculturas, vídeos e uma exposição fotográfica com os artistas,
do fotógrafo Jr. Panela.
Ensinamento
O projeto Estação Tradição, que
começava com um passeio pelo Centro da cidade até chegar à ONG,
contextualizando a trajetória histórica da cidade e as manifestações da
cultura, levou ao espaço cerca de 1.200 alunos e professores. O espaço
inicialmente foi pensado para trabalhar com mulheres na comunidade. Seguindo a
tradição aprendida em casa, Dane lembra sua avó e sua mãe, que pintavam, faziam
bordados e costuravam. "Elas tinham essa vontade de passar o saber para as
pessoas", afirma. O projeto foi sendo pensado como uma forma de
acolhimento das pessoas no local e o fortalecimento desse aprendizado.
A casa de construção vernacular abriga
a Sala do Sagrado Coração de Jesus, onde está o oratório, comum nas casas do
sertão. Adentrando no espaço, estão distribuídos instrumentos musicais, alguns
deles doados por poetas como Pedro Bandeira e outros pertences de mestres da
cultura, exemplares de xilogravuras, cordéis, vídeos com os grupos de tradição
e paramentos dos brincantes. A foto dos primeiros donos está na sala.
Na velha morada sertaneja vem junto um
pouco dos costumes e tradições, com as cadeiras de couro de Bodocó, as
meizinhas e as renovações, que ainda se mantém, com a tradição do Sagrado. A
renovação era a festa mais emblemática. O dia da reza reunia a comunidade e
eram feitos os sequilhos no forno do terreiro e o aluá para os convidados. Cada
sala tem um significado e um aprofundamento na pesquisa que vem sendo realizada
ao longo dos anos, para o resgate da ambiência Cariri. O projeto é um embrião,
segundo Dane. A proposta vem caminhando. "Precisamos ativar essa memória
de uma prática de convivência social muito saudável", afirma. Essas ações
ampliam o contato humano que têm se distanciado pelo uso da tecnologia.
Os Beatos construíram a base
educultural de organização e ordem social no Nordeste, segundo Dane, que tem se
dedicado aos estudos, por meio do doutorado na Universidade de Coimbra, em
Portugal. A pesquisa foca personalidades, que ela chama de beatos, como Padre
Ibiapina, José Lourenço, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Beata Mocinha.
A gestora destaca a formação educacional proporcionada por Ibiapina.
"Ele constituiu esse pensamento do desenvolvimento do Nordeste
brasileiro", diz ela, ao ressaltar a criação as casas de caridade no
Nordeste por ele. As experiências de coletividade de José Lourenço, com sistema
comunitário na primeira ecovila constituída no sítio Caldeirão e, sobretudo, a
filosofia central do Padre Cícero. (E.S.)
Mais
informações:
Base Educultural de Ação e Organização Social (Beatos)
Rua Cícero Alves de Sousa, 182
Lameiro - Crato - CE
Site:
Rua Cícero Alves de Sousa, 182
Lameiro - Crato - CE
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