Orós. O fechamento da Escola de Ensino
Fundamental São José, na localidade de Cabeça de Negro, zona rural de Orós, na
região Centro-Sul do Ceará, resultou em um ato extremo: um ônibus novo de
transporte escolar adquirido pelo município, em convênio com o Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE), foi incendiado. A destruição do veículo
não teve o apoio da maioria dos moradores, apesar da insatisfação geral com o
encerramento das atividades escolares na comunidade.
A julgar pela declaração de alguns
moradores, a decisão de queimar o ônibus foi um fato isolado. "A gente é
contra o fechamento da escola, mas a maioria não concorda com o que foi
feito", disse o vigia da escola, Francisco Bento da Silva. Há 27 anos que ele
trabalha na unidade de ensino. O sentimento das famílias do lugar é misto:
revolta pela decisão de transferir os alunos para outra localidade; e de
tristeza, pela destruição do veículo escolar.
Ameaça
Há também um clima de apreensão e um
acordo tácito de silêncio na comunidade. Se alguém sabe quem foi o responsável
ou os responsáveis pelo ato criminoso mantém-se calado. Um morador ameaçou:
"Se alguém falar, morre". Na localidade, vivem cerca de 150 famílias.
O incêndio ocorreu por volta de 1h30 da
madrugada de sábado passado, dia 31. O veículo havia chegado da cidade de Orós
e estava estacionado em frente à escola para o transporte de alunos, a partir
da segunda-feira passada, início do ano letivo na rede municipal de ensino.
O dono de um bar, Carlos Alberto
Fernandes Filho, viu o fogo da janela da casa dele, um apartamento construído
em um primeiro pavimento. "Abri a janela e vi o fogo destruindo o ônibus.
Demorou um pouco e houve um estrondo que foi ouvido na localidade de Malhada
Vermelha, distante quatro quilômetros", contou.
Na madrugada daquele dia ninguém
conseguiu mais dormir. Não há dúvida de que o fato está diretamente relacionado
com a decisão da secretaria de Educação implantar o processo de nucleação de
escolas, que resulta em fechamento de sete unidades isoladas, por apresentar
reduzido número de alunos.
Em janeiro passado, os moradores foram
comunicados da decisão administrativa em reunião realizada na comunidade. Os
pais ficaram contrários e revoltados, mas tentaram manter o funcionamento do
pré-escolar e das séries iniciais. "É ruim para as crianças de quatro,
cinco anos irem estudar em outra localidade", disse a dona de casa, Ivânia
Bianor. "Tenho dois filhos. Um de quatro e outro de oito anos e queria que
pelo menos o menor ficasse estudando aqui".
Os pais acham que não é viável crianças
serem transportadas diariamente para a comunidade de Igarói, distante 11 km de
suas casas. A secretária de Educação do município, Juventina Vidal, defende a
nucleação escolar que visa à adequação da rede de ensino e a redução de
despesas. "Tivemos que implantar um terço da carga horária para
planejamento, havendo necessidade de mais professores, além do aumento do piso
salarial dos docentes", justificou.
Sobre o ocorrido na localidade de
Cabeça de Negro, Juventina Vidal lamentou. "Foi um fato triste, uma facada
no coração", expressou. De acordo com a secretária, o município dispõe de
uma frota de 17 ônibus e transporta cerca de 4 mil alunos. "Tivemos que
fechar duas escolas, na comunidade de Cabeça de Negro e em Pai Antonio",
disse a secretária. "São cerca de 70 alunos, mas o transporte estava
assegurado, com monitores para segurança dos alunos".
A secretaria de Educação de Orós ainda
não sabe quando será oferecido um novo veículo para o transporte dos alunos em
razão do ônibus ter sido queimado. Por enquanto, eles estão sem estudar.
Mais informações
Secretaria
de Educação de Orós
Rua Matriz, 140
Centro
Fone: (88) 3584. 1461
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Fone: (88) 3584. 1461
Honório Barbosa
Colaborador
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