CONTRA O SARAMPO MAIS DE 400 MIL NÃO SE VACINARAM NA CAPITAL

Para contemplar todo o público que ainda não foi imunizado, as secretarias de saúde do Estado e do município estão levando equipes de vacinação para locais de grande circulação de pessoas
ÉRIKA FONSECA
Mesmo com ações intensivas de vacinação, levando equipes para locais de grande circulação de pessoas, a campanha de imunização contra o sarampo não atingiu a meta de pessoas protegidas contra a doença. De acordo com o último boletim, divulgado na sexta-feira pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), foi preciso estender o prazo até o dia 2 de maio para atender às mais de 400 pessoas que ainda não procuraram imunização em Fortaleza. Segundo o boletim, até o dia 18 de abril, foram aplicadas 722.929 vacinas na Capital, ou seja, 64% da cobertura necessária. Desse total, a maioria das doses (74,7%) foi aplicada na faixa etária de 12 a 29 anos, número que, contudo, corresponde apenas a 62% da meta estimada para este grupo.
As Secretarias Executivas Regionais (SERs) V e VI, onde estão bairros como Bom Jardim, Mondubim, Jangurussu e Barroso, concentram o maior número de pessoas que não tomaram a vacinaram: 91.558 e 87.147, respectivamente. Em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), a situação é mais grave, já que alcançou apenas 30% da cobertura vacinal exigida. Até o dia 2 de maio, quando encerra a campanha, mais de 115 mil pessoas precisam ser vacinadas na região, segundo a Sesa. Neste ano, foram confirmados lá 44 casos de sarampo.
No Estado, foram confirmados 103 casos somente em 2015. Desde o início do surto, em 2013, foram confirmados 799 casos de sarampo, a maioria deles em Fortaleza (368).
Na análise do epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Anastácio Queiroz, é necessário estimular a população a buscar a vacina. "É preciso criar uma rede grande com agentes da saúde, escolas e mídia para que possamos conscientizar da necessidade".
Ele ressalta, ainda, um foco maior no público-alvo da campanha e critica ações de imunização indiscriminada. Até o dia 18 deste mês, conforme a Sesa, foram aplicadas 160 mil doses na população acima de 30 anos.
Para o médico, o sarampo se tornou esse vilão poderoso por falta de ação eficaz quando os primeiros casos apareceram. "Deixamos as coisas caminharem e chegar a isso. Estamos agora correndo atrás do prejuízo. Contudo, não acredito que isso se resolva com campanhas esporádicas. Acredito num trabalho continuado, que envolva toda a rede", defende. O epidemiologista propõe uma nova prorrogação da campanha, caso não atinja a meta estabelecida.
Com a superlotação das unidades e o precário atendimento médico, acrescenta o especialista, diagnosticar o sarampo tardiamente também ocasiona dificuldade no bloqueio do vírus. "Como o sarampo foi eliminado por quase 15 anos, passamos a baixar a guarda. Mas em surto é preciso redobrar a atenção. E isso precisa de uma cooperação de todos os municípios", reforça.
Para contemplar todo o público que ainda não foi imunizado, as secretarias de saúde do Estado e dos municípios estão adotando estratégias como a mobilização dos agentes de saúde para incentivarem as pessoas a buscarem a proteção e deslocar equipes de vacinação para locais como shoppings, supermercados, feiras, igrejas e outros e eventos.
Ontem, uma equipe estava aplicando o antivírus na Praça Luiza Távora, na Aldeota, um dos pontos de apoio da Ciclofaixa de Lazer organizada pela Prefeitura. De acordo com a enfermeira responsável pelo grupo, Amanda Araújo, por volta das 10h, cerca de 110 pessoas tinham sido imunizadas.
A empresária Ysabelle Oliveira, 29, foi uma das que deixou para tomar a vacina apenas ontem. "Eu sempre deixava pro outro dia, ia adiando", reconhece. Entre os amigos e familiares próximos, conta ela, todos estão cientes da campanha, mas também não procuraram se imunizar. "As pessoas relaxam, acham que nunca serão atingidas", reconheceu. Já o professor Sérgio Pinho Pessoa, 39, levou a filha para se vacinar logo no início da campanha. "Hoje eu tomei também porque eles abriram pra mais pessoas. Mas fiz questão de levar a minha filha no prazo certo", disse.
Jéssica Colaço / Karine Zaranza
Repórteres

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