O crânio decepado achado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais (Foto: Danilo Bernardo)
Um grupo de arqueólogos da USP encontrou numa caverna na região de Lagoa Santa (MG) sinais do mais antigo caso de decapitação já registrado nas Américas.
As evidências do procedimento estão num crânio, datado em 9.000 anos, achado enterrado sob uma laje de calcário na gruta de Lapa do Santo. Além de ter a cabeça cortada, as mãos do indivíduo haviam sido decepadas.
Lagoa Santa é um dos sítios arqueológicos mais importantes das Américas e local onde foi encontrado o fóssil de Luzia, remanescente humano mais antigos já achado no Brasil, com 11.500 anos.
O crânio decepado havia sido retirado do local em 2007, junto com outros coletados na região, mas só após passar por preparação e análise detalhada os cientistas conseguiram elucidar o procedimento ao qual o indivíduo foi submetido. A descoberta está descrita em um estudo publicado hoje pela revista científica "PLoS One".
Corpo ausente
"Na época, gente estava começando a escavar, encontramos o crânio, e estavamos esperando encontrar o resto do corpo. Mas continuamos escavando, e nada de corpo", contou Strauss ao G1. "Mas o processo é lento. A gente leva cerca de 20 dias para fazer uma escavação como essa, e levamos quatro dias até entender o que estava acontecendo. A unica explicação para aquilo que a gente estava vendo era um caso de decapitação."
"Na época, gente estava começando a escavar, encontramos o crânio, e estavamos esperando encontrar o resto do corpo. Mas continuamos escavando, e nada de corpo", contou Strauss ao G1. "Mas o processo é lento. A gente leva cerca de 20 dias para fazer uma escavação como essa, e levamos quatro dias até entender o que estava acontecendo. A unica explicação para aquilo que a gente estava vendo era um caso de decapitação."
Não está claro o que ocorreu, mas os cientistas afirmam que todos os indícios apontam para a hipótese de que o homem foi decapitado depois de morto, num ritual de sepultamento. O indivíduo, além disso, parecia pertencer ao mesmo grupo que habitava o local. As hipóteses contrariam aquilo que seria a suspeita mais comum, de que a cabeça era usada como um troféu de guerra, para exibiri inimigos capturados.
O crânio estava a 55 cm da superfície, com as mãos amputadas sobre a face dispostas em sentidos opostos. Marcas de corte nas vértebras e na mandíbula, além do sumiço do osso hioide do pescoço indicaram que se tratava de uma decapitação.
O trabalho, coordenado pelo bioantropólogo brasileiro André Strauss, do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária, da Alemanha, foi liderado no Brasil pelo grupo de Walter Neves, da USP.
Antes do ritual descoberto pelo grupo em Lapa do Santo, o caso mais antigo de decapitação que se conhecia no continente era de povos dos Andes peruanos, cerca de 4.000 anos atrás.
A demora entre a descoberta do esqueleto e a publicação científica da descoberta -- um intervalo de sete anos -- não foi incomum para um trabalho desta magnitude, diz Strauss.
"Só para fazer a limpeza, remontagem e identificação dos esqueletos levamos um ano e meio para cada um. Depois tivemos que fazer os trabalhos de datação, com varios especialistas envolvidos", conta. "Apesar de o tema ser de tabloide, o estudo foi um trabalho antropologicamente cuidadoso."
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