Garoto de 10 anos cria museu em homenagem a Luiz Gonzaga, em Crato.

Com ajuda de familiares e amigos, jovem cria museu na zona rural do município. Espaço conta a história do homem sertanejo e de Luiz Gonzaga.

Ronuery Rodrigues
Repórter

A história do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e do homem sertanejo é contada de maneira simples e didática, em um museu dedicado ao cantor no distrito Dom Quintino a 25km da cidade Crato.

O idealizador deste projeto é o estudante Pedro Lucas Feitosa, de apenas 10 anos, que após uma visita ao “Museu do Gonzagão”, na cidade de Exu, Pernambuco, em 2013, encantou-se pelo espaço e resolveu construir o seu próprio lugar de exposição.
Ainda pequeno, o garoto ganhara de uma tia, um DVD com as principais músicas do cantor nordestino, o qual ouvia diariamente. A inspiração veio com a música “Numa sala de Reboco”, composição do músico com o poeta José Marcolino. Depois disso, Pedro Lucas resolveu transformar a casa da bisavó, já falecida, num espaço que intitulou de “Museu de Luiz Gonzaga”. O nome foi escrito à mão num pedaço de madeira.

Localizado no alto de um morro, chamado Alto da Antena, a poucos metros da CE 386, tudo é muito simples e organizado. Pedro também recebe a ajuda do primo, Kaio Everton, de 7 anos, que faz a função de “gerente”. No local, é possível encontrar instrumentos de trabalho, usados pelo sertanejo, tais como enxadas, foices, machado e enxadecos, além de utensílios domésticos, entre eles ferro a brasa, penteadeira, pilão e cabaças, doados por pessoas da localidade.
Todo o acervo é dividido em alas, com destaque para o local onde fica uma sanfoninha de brinquedo em meio a sandálias de couro, e fotografias do cantor, que Pedro Lucas faz questão de afirmar que se trata de uma “representação do rei do baião e todas as suas músicas”. A mala, por exemplo, retrata “a vida do viajante”, enquanto a sanfona faz a vez da música “Sanfona do povo”, sem contar a sandália de couro, que nunca acaba.

Quando perguntado sobre o apreço pelas músicas do Rei, o garoto responde “não saber afirmar” e diz apenas que “tem uma coisa na música de Luiz Gonzaga que é uma tentação pra mim, que é bom demais”.

Vindo de uma família de agricultores, Pedro Lucas é criado pelas avós, maiores incentivadores. Antonio Feitosa, de 55 anos, disse ter ficado surpreso com a ideia do filho. “Eu achava que um menino da idade dele num dava certo pra essas coisas, nunca achava que ia dar certo, porque os meninos de hoje quer é
saber das coisas modernas de hoje, e ele se inspirar logo num homem que nem Luiz Gonzaga, num rei”.

Orgulhoso, o avô ressalta os méritos do garoto nos estudos: “Sempre passa por média”. O sentimento é divido com a esposa, Maria Salete de Souza, de 50 anos. Ela afirma, exigente, que o estudo vem primeiro e só depois o neto pode brincar. Para a agricultora, “é melhor ele tá brincando no museu do que na rua”. “Eu espero que ele melhore e tenha um futuro melhor, né? Através desta arte, porque é o que ele mais gosta”, afirma.
Para Ricky Seabra, diretor do Museu de Arte Vicente Leite de Crato, a paixão de Pedro Lucas pelo que faz é contagiante e a criação de um espaço como esse depende apenas de esforço e dedicação. “ O museu de Pedro Lucas demonstra que o esforço de se criar e de se manter um museu não advém do trabalho de técnicos, mas sim da paixão e voluntariado. Os grandes museus do mundo começaram pequenos com pessoas que entendem o valor de preservar e compartilhar histórias, não ficarei surpreso se no futuro, o espaço se tornar o maior e mais rico museu do Cariri”, afirma.

Sonhos
A rotina do garoto, que vai cursar o sexto ano do ensino fundamental, além de estudar, é toda dedicada ao museu. Se para alguns é brincadeira, para o jovem o trabalho é “levado a sério”. Questionado se prefere brincar de bola ou cuidar do museu, o menino não titubeia: “cuidar do museu”, ele diz.

No entanto, como toda criança de sua idade, Pedro Lucas, possui sonhos: também quer ter uma sanfona como de seu Luiz e aprender a tocá-la, conhecer alguns cantores e seguir a profissão de museólogo. “Meu futuro é ser museólogo, para incentivar mais as pessoas pra saber como era antigamente”, ele finaliza.

O espaço dedicado a Luiz Gonzaga, em Dom Quintino, funciona de segunda a domingo das 8 às 17h. Está localizado à Rua Alto da Antena, nº 69, distrito Dom Quintino, na cidade de Crato.


Nenhum comentário

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››

Postagens populares