Jornalista Sandra Moreyra, da Globo, morre no Rio aos 61 anos

A jornalista Sandra Moreyra, uma das principais repórteres da Globo, morreu nesta terça-feira (10), no Rio. Ela tinha 61 anos e lutava contra um câncer.
Com 40 anos de carreira, Sandra participou de coberturas jornalísticas de importantes momentos do país.
Ela cobriu a morte de Tancredo Neves, o Plano Cruzado, o acidente radioativo em Goiânia, com Césio 137, a tragédia do iate Bateau Mouche, a Rio-92 e a ocupação do Complexo do Alemão.
Em outubro, a jornalista anunciou que descobriu que estava de novo com câncer. "Novamente estou sendo posta à prova. Mais um tratamento pra fazer. Eu amo a vida. E vou em frente”,postou ela.
Sandra enfrentava o terceiro câncer nos últimos sete anos, desta vez no mediastino – região torácica perto do esôfago.
O velório será na quarta-feira (11), das 12h às 17h30, no Cemitério Memorial do Carmo, no Rio.
"Carioca e botafoguense. Sou mulher do Rodrigo, mãe da Ciça e do Ricardo, avó do Francisco e do Leon, que vem por aí em novembro", definia-se no Twitter. Casada com o arquiteto Rodrigo Figueiredo, ela era irmã da também jornalista e diretora da GloboNews, Eugenia Moreyra.
40 anos de carreira
A repórter começou a carreira na Globo em Minas Gerais, na década de 1980. Logo depois, voltou para o Rio de Janeiro e passou a fazer reportagens para o RJTV, o Jornal Nacional, o Globo Repórter e o Bom Dia Brasil.
A cobertura que a jornalista considerava mais marcante foi o enterro dos mortos na chacina de Vigário Geral, em 1993.
“Na hora de escrever o texto, a matéria tinha uma carga de emoção tão forte, da dor daquelas pessoas, da violência, que pensei: 'Tenho que botar isso nas palavras mais simples'. Quando a matéria entrou no ar, foi um soco no estômago", relatou ao site Memória Globo.
"Ela estava muito mais forte do que eu poderia imaginar, porque consegui exatamente isso, lidar com a realidade sem querer ser mais do que ela, sem querer aparecer mais. No dia em que fiz aquela matéria foi quando senti: ‘Puxa vida, cresci. Que bom!”, completou.
Entre 1999 e 2004, atuou na GloboNews na parte gerencial e administrativa do jornalismo. No canal, também apresentou o programa Espaço Aberto Literatura. Depois, voltou a ser repórter na TV Globo.
Ela era considerada uma jornalista de múltiplos talentos: na edição, na reportagem e no vídeo. Seu texto era singular, com personalidade.
Luta contra o câncer
Nos últimos anos, chefiou o núcleo de reportagens especiais da TV Globo no Rio de Janeiro. Sem nunca ser vítima, tia Sandrinha, como era chamada pelos seus companheiros de redação, brigou pela vida até o fim.
Em 2008, descobriu e tratou um câncer no esôfago. Voltou ao trabalho e, em 2013, um exame de rotina constatou a volta da doença no mesmo órgão.
Sem voz depois do segundo tratamento contra o câncer, ela escreveu para que outros lessem. Na série de crônicas para o aniversário de 450 anos do Rio, Tony RamosFernanda Montenegro,Milton Gonçalves foram alguns dos que deram voz às histórias que ela contava com tanto capricho. Seu último trabalho foi a série Cariocas Olímpicos.
Com muita dificuldade para engolir, ela nunca perdeu o gosto pela cozinha. Cozinhava, tirava fotos e publicava nas redes sociais.
Magrinha, descia todos os dias a rua de casa a caminho da academia. Quem sabe ganhava um pouco de massa muscular, dizia ela. Observava da janela da sala os tucanos e os sabiás do Jardim Botânico, onde morava. "Hoje mesmo eu ouvi um sabiá cantar feliz debaixo da minha janela. Sábias aves", escreveu no último dia 22. Na semana passada lamentou a queda de uma árvore na sua rua.
Perfil
Sandra Maria Moreyra nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1954, com jornalismo correndo nas veias.
O avô, Álvaro Moreyra, era escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, e dirigiu importantes revistas nos anos 1950, como Fon-Fon e Paratodos.
Seu pai, Sandro Moreyra, fez história como um dos mais importantes cronistas esportivos do jornalismo brasileiro. Sua mãe, Lea de Barros Pinto, era professora.
Sandra Moreyra (Foto: Divulgação/Memória Globo)Sandra Moreyra na redação do Bom Dia Brasil
(Foto: Divulgação/Memória Globo)
Em 1975, após um concurso, começou seu primeiro estágio, no Departamento de Pesquisa do Jornal do Brasil.
Formou-se em 1976, foi contratada e, em 1978, foi para a reportagem geral do jornal, onde começou a carreira de repórter.

Em 1979, deixou o Jornal do Brasil para acompanhar o marido que trabalhava numa empresa de engenharia e foi transferido para a Argélia.
Engravidou, voltou para o Brasil e começou a trabalhar numa agência de publicidade, onde teve seu contato com o vídeo.

Ida para a TV Globo
Após passagens pela TV Aratu, na época afiliada da Globo, pela TV Bandeirantes e pela TV Manchete, entrou na Globo em 1984, como repórter em Minas Gerais.
No ano seguinte, participaria ativamente da cobertura da eleição e morte de Tancredo Neves. No dia da morte do primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, Sandra Moreyra apareceu no Jornal Nacional acompanhando o cortejo fúnebre.

Em 1986, a jornalista deixou Minas e voltou para o Rio e se tornou uma das principais repórteres da editoria, cobrindo todo o tipo de pauta na região metropolitana.
Além do jornalismo, Sandra assinou o roteiro de "70", documentário sobre 70 presos políticos exilados no Chile na ditadura militar brasileira. Leia mais sobre o filme.
Era uma carioca que amava as coisas do Rio: o carnaval, o samba e o futebol.
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Emilia Silveira e Sandra Moreyra nos bastidores do programa ‘Amanaque’  (Foto: Divulgação/Globonews)Emilia Silveira e Sandra Moreyra nos bastidores do programa ‘Almanaque’ (Foto: Divulgação/Globonews)

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