O agricultor Francisco Ademar mostra-se satisfeito com seus animais ( Fotos: José Avelino Neto ) |
Banabuiú. Com o acúmulo de cinco anos seguidos, os efeitos da seca
em quase todo o Estado têm sido enormes. Mas, na zona rural deste Município, há
220Km de Fortaleza, criadores de ovinos e caprinos convivem com animais com
produtividade em alta, ajudando na geração de lucro para a família. Uma proeza,
visto que, em algumas situações, até a água precisa ser comprada. Os criadores
afirmam seguir estratégias que fazem os animais resistirem à estiagem.
Para os açudes, o período chuvoso de 2016 gerou recargas
tão pequenas que 130 dos 153 deles, monitorados pela Companhia de Gestão de
Recursos Hídricos (Cogerh), estão com volume abaixo dos 30%. Por outro lado,
para o agricultor Atanias Salviano Gonçalves, 45, a pouca chuva serviu e tem
garantido o abastecimento do rebanho. "A chuva pra gente foi boa. Tenho um
açude pequeno lá por perto e é com essa água que eu abasteço meus bichos. Lá em
casa nunca entrou uma pipa d'água", diz.
Estratégia
Com a água, ele planta a terra de onde jorra a forragem
para os 280 carneiros e 180 cabeças de gado que tem na Fazenda Petrolina, no
distrito de Muriá, distante 13Km da sede do município. Com alimentação e água
garantidos, os bichos são sempre produtivos. "Eu produzo cerca de 400
litros de leite por dia e vendo", conta ele, que também faz negócio com o
gado.
"Pra mim, neste ano, mesmo com essa seca aí, não foi
ruim. Se não chover, ano que vem vai ser ruim. Mas este mesmo, não foi",
afirma. Se houve um período ruim para os produtores da região foi 2012.
"Eu perdi 40 cabeças de gado de 120 que eu tinha. Morreram tudo de fome e
outros doentes porque comiam salsa", conta Francisco Ademar Lopes, 66. A
água que tem em casa ele compra de carros-pipa. Mesmo assim, a situação não é
ruim: "Dou forragem, tem a água que eu compro e minhas criações produzem
300 litros de leite por dia. Não tenho do que reclamar".
Ciente do momento difícil que enfrentaria, Francisco
Ademar foi buscando meios de superar as dificuldades geradas pela estiagem. Uma
das alternativas foi o plantio de palma forrageira, ideia que ele investiu após
receber orientação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará
(Ematerce). "Tenho uma plantação que comecei com umas sementes que ganhei
na Ematerce e isso aí hoje me ajuda muito". A produção de leite é comprada
por uma empresa de laticínios, o que ajuda a garantir o sustento de casa. Outra
técnica tem sido alimentar os animais com ração ou plantio da forragem durante
metade do dia e, na outra metade, soltar o bicho no pasto. "Garante
economia e tem dado certo", explica.
Análise
Com resultado previsto para mês que vem, uma pesquisa do
Instituto Nacional do Semiárido (Insa) em parceria com a Articulação Semiárido
Brasileiro (ASA) deve revelar aspectos relevantes de sustentabilidade de
agroecossistemas de dez territórios do Semiárido, entre ele o Estado do Ceará.
Segundo a ASA, 50 famílias agricultoras participam da
pesquisa, que começou há três anos e vai analisar aspectos econômicos, sociais
e ecológicos das experiências, a fim de apontar a viabilidade dos diversos
modos de produção, sobretudo, no período de estiagem que já se estende na
região desde 2011.
"Os agricultores que têm água de beber e que têm água
de produzir vivem melhor do que outros. Nossa ideia não é comparar e sim entender
as familiais que têm um conjunto de inovações e, qual a importância do conjunto
de estratégias de estoque dessas famílias", disse o Coordenador do
Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA, Antônio Barbosa.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) diz
ajudar na organização de um novo modelo de agricultura, com o auxílio de
cooperativas e associações, "com acesso às políticas públicas de
financiamento, engajado no desafio de garantir uma melhor qualidade de
vida". O órgão frisa que "o produtor rural no Ceará, além de ter uma
convivência de mais qualidade de vida com a escassez d'água, produz de forma
criativa e usando todos os recursos disponíveis como a energia renovável e a
irrigação por gotejamento, onde o Estado é pioneiro".
Para a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme) ainda é cedo para falar se o ano que vem será de bom
inverno. Mas os produtores clamam Muriá esperam um novo ano de chuva.
"Outro ano de seca, não tem esperteza que dê jeito", diz Ademar.
PROTAGONISTA
Técnicas que garantem a produtividade
Agricultor desde que se entende por gente, Francisco
Ademar Lopes, 66, sempre criou cabras, carneiros e bois. Para ele, o pior ano
foi 2012. Mas, de lá para cá, a seca não tem interferido em sua produção. Ele
conta que seus animais chegam a produzir 300 litros de leite por dia, que vende
para uma empresa. O agricultor recorre a técnicas que garantem a produtividade
do rebanho, como a plantação de palma forrageira para não deixar faltar comida
pro gado.
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