A agricultura de sequeiro e pecuária devem amargar perdas ainda maiores, após últimos prejuízos
Russas. Prefeitos, líderes comunitários e moradores de diversos municípios cearenses receberam com preocupação o prognóstico da quadra invernosa anunciado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará (Funceme), divulgado na última terça-feira. Segundo o órgão, há 40% de possibilidade de chuvas abaixo da média, de fevereiro a abril. A situação preocupa gestores quanto a ações para amenizar os problemas da estiagem, que pode entrar em seu terceiro ano consecutivo.
Na zona rural, os pequenos reservatórios atingem volume morto e não apresentam condições para abastecimento do consumo humano
A agricultura de sequeiro é a que vem sendo mais penalizada com as sucessivas secas que atingem o semiárido brasileiro. De acordo com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Nelson Martins, as perdas em 2012 foram em torno de 84% e em 2013, 75%. Com relação à pecuária, morreram no ano passado cerca de 100 mil cabeças bovinas, de um total de estimado em 2,6 milhões. "Foi uma redução drástica, mas vale ressaltar que o Ceará perdeu menos que outros Estados nordestinos, onde os percentuais chegaram até 30%", disse Martins. Para o secretário, um cenário semelhante de estiagens anuais seguidas há 20 anos seria um verdadeiro desastre para economia do Estado. "Isso não aconteceu graças às tecnologias sociais e aos investimentos que vêm sendo financiados para o pequeno e médio produtor", afirmou.
No Sertão Central o momento ainda é de esperança, apesar das perspectivas desanimadoras apresentadas pela Funceme. Essa foi a avaliação apresentada pelo coordenador regional da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), José Militão de Almeida Neto. A orientação da entidade é de animar o homem do campo. Quando as chuvas iniciarem é importante plantar.
Quanto aos recursos hídricos para consumo humano, Militão enfatizou a necessidade da expansão dos programas de escavação de poços. Por enquanto a situação é mais critica em Canindé e em Caridade, onde não existem mais mananciais para captação de água. Nas outras regiões, grandes açudes, como o Fogareiro, em Quixeramobim, o Arrojado Lisboa, em Banabuiú, e o Patu, em Senador Pompeu, podem atender as comunidades de vários municípios através da Operação Pipa. Esse é o caso do Fogareiro. Além de Quixeramobim, está abastecendo comunidades de Madalena e Itatira, conforme acrescentou.
Na região dos Sertões de Crateús e Inhamuns, gestores e trabalhadores receberam o prognóstico com preocupação. A água para o consumo humano será o grande problema se a seca se prolongar. Nessa região, a situação, que já é crítica, tenderá a se agravar. Em Crateús, o abastecimento já está sendo realizado com a água transportada do Açude Flor do Campo, de Novo Oriente, operação realizada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) no ano passado.
Castanhão chegou ao seu nível mais baixo em toda a sua história FOTO: ELLEN FREITAS
Para o coordenador da Defesa Civil de Crateús, Teobaldo Marques, o quadro no município, que já é emergencial, poderá ser de calamidade, caso não haja a recarga do reservatório Carnaubal, que abastece a cidade de Crateús. "A saída, que apenas ameniza, é manter a política de perfuração de poços profundos que vem sendo realizada desde o ano de 2013", destaca. O prefeito Carlos Felipe informou que tem a garantia da Cogerh de que Crateús não sofrerá desabastecimento de água.
"A Cogerh garantiu que tem um plano B e um plano C para abastecer Crateús, que seria trazer água de um reservatório aqui da região e perfuração de poços da bacia do Parnaíba, da qual fazemos parte. Mas, mesmo com os prognósticos, confio nos planos de Deus", frisou.
Em Irauçuba, na região Norte do Estado, o secretário de Meio Ambiente, Caetano Rodrigues, conta que a Cagece informou que o Açude Gamaleira ficaria completamente sem água.
Ele explica que a única maneira do município vencer mais um ano de seca seria com a construção da adutora que traria água do Açude Missi, mas o processo ainda se encontra na licitação.
Situação crítica
Enquanto isso, a Prefeitura continua pagando carros-pipas para trazer água do mesmo açude e depositar em tanques externos cobertos, onde a população se locomove para pegar baldes com o liquido. "A situação está crítica aqui. A população compra água por baldes, água mineral ou qualquer que seja vendida. Nossa única esperança seria com a adutora prometida há quase três anos pelo Governo do Estado", lamenta.
Em Juazeiro do Norte, o prognóstico da Funceme também ascendeu a luz amarela junto ao Sindicato que representa os rurícolas. O presidente da entidade, José Pereira da Silva, avalia que se as chuvas não acontecerem, os municípios necessitarão receber apoio dos governos do Estado e Federal, no sentido de que sejam ampliados os números de vagas nos programas voltados ao setor, como o Garantia Safra e o Bolsa Estiagem, por exemplo.
"O número de agricultores cadastrados nestes programas é insuficiente para atender aos agricultores do nosso município, caso não haja quadra invernosa suficiente para uma boa safra neste ano", garante o sindicalista.
No Vale do Jaguaribe, os gestores estão em alerta com a diminuição do nível do Açude Castanhão, que se encontra com 39% de sua capacidade. Para o prefeito de Jaguaribara, Francini Guedes, o momento é de se pensar sobre a reutilização dessa água para não comprometer o abastecimento futuramente.
ELLEN FREITAS E SUCURSAIS
REPÓRTER E COLABORADORES
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